Mellah de Marraquexe – Guia Completo do Bairro Judeu 2025

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Mellah Bairro Judeu
Mellah Bairro Judeu

O Mellah é um dos sítios que mais me toca quando visito Marraquexe. Este antigo bairro judeu fica na Medina e tem uma história que vale a pena conhecer.

Foi criado em 1558 e chegou a ter 70.000 pessoas no seu auge.

Hoje restam apenas algumas centenas de judeus, mas a Sinagoga Slat al-Azama e o Cemitério Judeu de Miaâra mantêm viva a memória desta comunidade.

Neste guia, partilho tudo para planear a sua visita – desde os horários e preços até às dicas que fazem a diferença.

É um lado de Marraquexe que poucos turistas conhecem bem.

O Que É o Mellah de Marraquexe

Mellah Bairro Judeu
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História do Bairro Judeu

O Mellah de Marraquexe começa a sua história no século XVI, quando o sultão saadiano Abdallah al-Ghalib ordenou a sua criação para proteger a comunidade judaica marroquina sob o estatuto de “dhimmi” (protegidos) no contexto islâmico.

O nome “mellah” vem da palavra árabe para “sal”, possivelmente devido a uma fonte de água salgada ou a um antigo depósito de sal na área.

Esta designação tornou-se depois comum para todos os bairros judeus em Marrocos.

Muitos dos primeiros habitantes eram refugiados da expulsão da Península Ibérica em 1492.

Vinham em busca de proteção e de um novo lar, encontrando em Marraquexe um sultão que lhes oferecia segurança e a possibilidade de manter as suas tradições.

Na minha opinião, a criação do mellah reflete bem a coexistência entre judeus e muçulmanos que caracterizou Marrocos durante séculos.

Era uma relação de respeito mútuo, onde cada comunidade mantinha a sua identidade cultural e religiosa.

Mellah Bairro Judeu
Mellah Bairro Judeu

Localização Próxima ao Palácio El Badi

O Mellah fica na Medina de Marraquexe, muito perto do Palácio El Badi. Esta localização não foi escolhida ao acaso – estava suficientemente próxima do poder para ter proteção, mas mantinha-se como um bairro distinto.

Para entrar no bairro judeu, passa-se pelo arco de pedra do Rabino Ben Attar.

É curioso ver como muitos locais ainda tocam este marco ao passar, na esperança de um golpe de sorte.

Hoje, o mellah é também conhecido como Hay Essalam, o seu nome moderno. As fronteiras históricas mantêm-se visíveis e é fácil perceber quando se entra no bairro porque a arquitetura muda logo.

A proximidade ao Palácio El Badi faz com que seja fácil combinar as visitas.

São apenas alguns minutos a pé entre os dois locais, tornando o mellah uma paragem obrigatória quando se visita esta zona da Medina.

Mellah Bairro Judeu
Mellah Bairro Judeu

Arquitetura Sefardita Única

A arquitetura do Mellah é completamente diferente do resto da Medina marroquina.

As casas são mais altas, os apartamentos menores e há varandas e janelas que se abrem diretamente para as ruas – algo raro na arquitetura tradicional marroquina.

Esta diferença deve-se à influência sefardita dos judeus que vieram da Península Ibérica.

Trouxeram consigo não só as suas tradições religiosas, mas também formas diferentes de construir e organizar o espaço urbano.

As ruas estreitas e a densidade habitacional resultaram da limitação do crescimento à área designada.

Durante séculos, a comunidade teve de otimizar cada metro quadrado disponível, criando uma arquitetura vertical que contrasta com as construções mais horizontais da Medina.

O Que Ver no Mellah de Marraquexe

O Mellah oferece uma experiência completamente diferente dos locais mais conhecidos de Marraquexe.

Enquanto o Jardim Majorelle impressiona pelas cores vibrantes e a Mesquita Koutoubia domina o horizonte, aqui a descoberta é mais silenciosa e íntima.

É um lado de Marraquexe onde não há multidões a empurrar para tirar a foto perfeita.

A história conta-se através de ruas estreitas, arquitetura única e locais que poucos turistas conhecem.

É o Marraquexe autêntico, longe dos circuitos mais óbvios.

Sinagoga Slat al-Azama – A Mais Antiga de Marraquexe

Mellah Bairro Judeu
Sinagoga Slat al-Azama – Mellah Bairro Judeu

A Sinagoga Slat al-Azama é o coração religioso do mellah e a sinagoga de Marraquexe mais antiga.

O edifício original foi construído em 1492, mas o que se vê hoje data do início do século XX.

A entrada custa 10 dirhams (cerca de 1€) e inclui um pequeno museu sobre a história dos judeus em Marrocos. Para mim é um preço simbólico para uma experiência que vale muito mais.

A sinagoga está integrada numa construção maior com um pátio central (riad) e apresenta decoração tradicional marroquina, incluindo zellige (azulejos em mosaico).

É interessante ver como a arte islâmica e a tradição judaica se misturam harmoniosamente.

O espaço é pequeno, mas impressionante.

A decoração é sóbria, mas cuidada, e consegue-se sentir a espiritualidade do local.

É um sítio que convida ao recolhimento e à reflexão sobre a história desta comunidade.

Cemitério Judeu de Miaâra – O Maior de Marrocos

Mellah Bairro Judeu
Mellah Bairro Judeu

O Cemitério Judeu de Miaâra é uma visita que marca qualquer pessoa.

É o maior cemitério judaico de Marrocos, com aproximadamente 20.000 sepulturas e mais de 500 anos de história.

A entrada é gratuita, mas é costume deixar uma pequena gratificação ao cuidador.

O cemitério está aberto 24 horas por dia, mas eu recomendo visitar durante o dia para apreciar melhor o ambiente.

Os túmulos caiados de branco estendem-se por um vasto terreno. Têm tamanhos variados e uma simplicidade que impressiona.

Cada sepultura conta uma história, desde comerciantes prósperos a artesãos simples que fizeram parte desta comunidade.

É um local de grande serenidade, o silêncio é quebrado apenas pelo vento e pelos pássaros.

Para quem quer entender a dimensão da comunidade judaica em Marraquexe, este cemitério é a melhor prova da sua importância histórica.

Vida Atual do Mellah – Hay Essalam

Mellah Bairro Judeu
Mellah Bairro Judeu

Hoje, o Mellah é conhecido como Hay Essalam e a vida aqui é bem diferente do que era há décadas.

A população judaica reduziu-se drasticamente – de 70.000 no auge para algumas centenas atualmente.

A Praça do Mellah continua a ser um ponto de encontro local.

Há pequenos cafés, lojas tradicionais e um mercado que funciona de forma mais calma que os souks da Medina principal. É um ambiente mais familiar e menos turístico.

O comércio atual é essencialmente local, encontram-se pequenas mercearias, cafés tradicionais e algumas oficinas. É interessante ver como a vida quotidiana continua num espaço com tanta história.

A diferença em relação aos souks mais tradicionais e conhecidos da Medina é evidente. Aqui não há o burburinho constante dos vendedores nem a pressão comercial.

É um Marraquexe mais calmo e introspetivo.

História dos Judeus em Marraquexe

Mellah Bairro Judeu
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Chegada no Século XIII

Os judeus começaram a estabelecer-se em Marraquexe no século XIII, mas foi apenas no século XVI que se criou o mellah como bairro separado.

Esta decisão tinha objetivos claros de proteção e organização.

A criação de um bairro judeu separado não era uma forma de segregação, mas sim de proteção. Num contexto onde as tensões religiosas podiam surgir, ter um espaço próprio garantia maior segurança à comunidade.

O mellah funcionava como uma cidade dentro da cidade, tinha as suas próprias regras, os seus líderes comunitários e uma organização social específica.

Era um modelo que funcionou durante séculos.

A escolha da localização perto do Palácio El Badi não foi casual, a proximidade ao poder garantia proteção direta do sultão saadiano, que via na comunidade judaica marroquina uma fonte importante de receitas e conhecimento.

Era Dourada como Centro Comercial

Mellah Bairro Judeu
Mellah Bairro Judeu

Entre os séculos XVI e XVII, o Mellah era uma das principais áreas comerciais de Marraquexe.

A comunidade judaica marroquina controlava sectores económicos cruciais da cidade, contribuindo significativamente para o património judaico de Marrocos.

Os judeus marroquinos destacavam-se como banqueiros, joalheiros, artesãos de metal especializado, alfaiates de qualidade e comerciantes de açúcar e especiarias.

O mellah funcionava como um bairro murado com portões que eram fechados à noite. Esta organização permitia controlar o acesso e garantir a segurança dos habitantes e dos seus bens.

A comunidade próspera e bem organizada desempenhava um papel importante na economia de Marraquexe durante este período dourado.

Êxodo do Século XX

Mellah Bairro Judeu
Mellah Bairro Judeu

A criação de Israel em 1948 marcou o início de uma emigração massiva. A maioria dos judeus marroquinos optou por emigrar, deixando para trás séculos de história em Marraquexe.

A população reduziu-se drasticamente – de uma comunidade florescente para as poucas centenas que hoje permanecem na cidade.

A maioria são pessoas idosas que optaram por ficar ou famílias com raízes muito profundas na cidade.

O património físico mantém-se, mas a vida comunitária mudou drasticamente. A sinagoga ainda funciona, o cemitério continua a ser cuidado, mas falta a energia de uma comunidade vibrante.

A preservação da memória tornou-se uma prioridade. Tanto as autoridades marroquinas como organizações internacionais trabalham para manter viva a história dos judeus marroquinos.

Este património judaico de Marrocos é hoje reconhecido como parte fundamental da cultura marroquina e representa um exemplo único de coexistência religiosa.

Como Visitar o Mellah

Mellah Bairro Judeu
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Localização e Como Chegar

O Mellah fica na Medina de Marraquexe, muito perto do Palácio da Bahia e do Palácio El Badi. A partir da Praça Jemaa el-Fna, são cerca de 15 minutos a pé.

Pela minha experiência, o melhor é entrar pelo arco do Rabino Ben Attar, que marca a entrada tradicional do bairro.

É fácil de encontrar se seguir as indicações para o Palácio da Bahia – o mellah fica mesmo no caminho.

De petit taxi, pode pedir para ser deixado na Place des Ferblantiers (Praça dos Ferreiros) ou mesmo junto ao mellah. A maioria dos taxistas conhece bem a zona.

Se vier a pé desde outros pontos da Medina, use como referência os minaretes das mesquitas – são sempre uma boa bússola quando se está perdido nos becos da cidade antiga.

Melhor Altura para Visitar

A manhã é ideal para visitar o mellah. Entre as 9h e as 11h, há menos gente e a temperatura ainda está agradável.

É quando se consegue sentir melhor a atmosfera especial do bairro.

O final da tarde funciona bem no verão, quando o calor diminui. A luz dourada cria um ambiente bonito para fotografias e a vida local ganha outro ritmo.

Para a visita completa – sinagoga, cemitério e volta pelo bairro – calcule 1 a 2 horas.

É tempo suficiente para ver tudo com calma e absorver a história do local.

Mellah Bairro Judeu
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Dicas Práticas para a Visita

O Que Levar e Como Se Vestir

Para visitar o mellah e especialmente a sinagoga, é importante vestir-se com respeito.

Penso que cobrir ombros e joelhos é uma boa regra geral. Não há exigências muito rígidas, mas o bom senso aconselha roupa modesta.

Calçado confortável é essencial, vai andar muito e algumas zonas têm piso irregular. Ténis ou sapatos de caminhada são ideais para explorar o bairro com conforto.

Leve água, especialmente no verão.

Há poucos cafés no mellah e é importante manter-se hidratado. Um chapéu e protetor solar também são recomendados.

A máquina fotográfica é bem-vinda, pode fotografar livremente no bairro, mas na sinagoga é melhor pedir autorização primeiro por uma questão de cortesia.

Protocolo Cultural

Na Sinagoga Slat al-Azama, mantenha um comportamento respeitoso, pois é um local de culto ativo e deve ser tratado como tal. Fale baixo e mova-se com cuidado.

No Cemitério de Miaâra, o respeito é fundamental. Evite fazer barulho, não toque nos túmulos e mantenha uma postura digna. É um local sagrado para a comunidade judaica.

As fotografias são geralmente permitidas, mas seja discreto. Se vir pessoas em oração ou em momentos de recolhimento, respeite a sua privacidade.

Uma pequena gorjeta ao cuidador do cemitério é costume e é bem recebida. Não é obrigatória, mas mostra respeito pelo trabalho de manutenção que é feito.

Mellah Bairro Judeu
Mellah Bairro Judeu

Roteiro Integrado

O mellah combina perfeitamente com outros monumentos históricos próximos. Esta zona é ideal para quem procura turismo cultural em Marraquexe:

  • Palácio da Bahia – 5 minutos a pé, visita obrigatória com jardins e salas decoradas
  • Túmulos Saadianos – 10 minutos a pé, onde estão enterrados os sultões da dinastia Saadiana
  • Mesquita Moulay al-Yazid – Também conhecida como Kasbah Mosque, exemplo de arquitetura religiosa marroquina
  • Palácio El Badi – Ruínas impressionantes muito perto do mellah
  • Place des Ferblantiers – Praça dos Ferreiros, bom local para tomar um chá de menta e observar a vida local

Este roteiro permite fazer um dia completo na zona sul da Medina, descobrindo diferentes aspetos da história de Marraquexe numa área relativamente pequena.

Mellah Bairro Judeu
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Perguntas Frequentes sobre o Mellah de Marraquexe

É seguro visitar o Mellah de Marraquexe? Sim, o Mellah é seguro para turistas durante o dia. É um bairro calmo com movimento local normal e sem problemas específicos de segurança.

Pode fotografar no Mellah bairro judeu de Marraquexe? Sim, pode fotografar livremente no bairro. Na Sinagoga Slat al-Azama, é melhor pedir autorização primeiro por uma questão de respeito.

Precisa de guia para visitar o Mellah de Marraquexe? Não é obrigatório, mas um guia especializado ajuda muito a entender a história da comunidade judaica marroquina e os detalhes culturais.

Quanto custa visitar a sinagoga do Mellah? A entrada na Sinagoga Slat al-Azama custa 10 dirhams (1€) e inclui um pequeno museu sobre a história dos judeus em Marrocos.

Quanto tempo dedicar ao Mellah bairro judeu? Entre 1 a 2 horas é suficiente para ver o bairro, a sinagoga e o cemitério judeu com calma e sem pressas.

O Mellah de Marraquexe é adequado para crianças? Perfeitamente. É um bairro tranquilo e seguro, ideal para famílias que querem ensinar história de forma prática e interessante.

Mellah Bairro Judeu
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Conclusão

O Mellah de Marraquexe conta uma história única de coexistência amigável entre culturas que caracterizou Marrocos durante séculos.

No meu entender, a visita a este bairro judeu permite compreender uma parte fundamental da história da cidade que muitas vezes passa despercebida.

Desde a Sinagoga Slat al-Azama ao Cemitério de Miaâra, cada canto do mellah conta uma história de resistência, prosperidade e, finalmente, de uma comunidade que deixou uma marca indelével em Marraquexe.

A arquitetura sefardita única e as tradições preservadas fazem deste local uma visita obrigatória para quem quer conhecer a verdadeira história da cidade.

Obrigado por ter lido este guia sobre o Mellah de Marraquexe!

Espero que ajude a planear a sua visita a este local único.

Continue a explorar os outros artigos sobre Marraquexe – há muito mais para descobrir na Cidade Vermelha..

 

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